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Examinador-IA: “Analiso milhares de depósitos de propriedade intelectual — identificando instantaneamente arte prévia, inconsistências e erros de classificação com precisão de máquina.”
Requerente-IA: “Ajudo equipes jurídicas e de P&D a redigir pedidos mais robustos, sinalizar riscos com antecedência e alinhar os depósitos a padrões locais e internacionais de PI.”
O cenário global de propriedade intelectual já não é definido apenas por revisão manual e estratégias de depósito reativas. A inteligência artificial agora opera no núcleo tanto dos processos de exame quanto de requerimento — transformando a forma como direitos são concedidos, defendidos e comercializados.
Na MJZanon, enxergamos isso como uma mudança de paradigma: não uma substituição da expertise humana, e sim a sua ampliação. A IA capacita os escritórios de PI a acelerar a tomada de decisão e melhorar a consistência. Permite que requerentes construam portfólios orientados por dados, em conformidade e preparados para o futuro.
Este artigo explora como sistemas duplos de IA — em ambos os lados da mesa de depósito — não estão apenas remodelando fluxos de trabalho de PI, mas redefinindo de forma profunda os padrões de precisão, estratégia e accountability na gestão moderna de propriedade intelectual.
Na MJZanon, monitoramos continuamente mudanças estruturais em escritórios de PI ao redor do mundo. Os sinais são claros: o modelo tradicional de exame está sob pressão — e a transformação deixou de ser opcional.
Aumento de Volume de Depósitos
Escritórios nacionais e regionais estão processando números historicamente altos de pedidos de patentes e marcas. Esse aumento pressiona a capacidade dos examinadores e evidencia a necessidade de automação inteligente.
Maior Complexidade Técnica
Os pedidos hoje abrangem IA, biologia sintética, computação quântica e sistemas intensivos em software — áreas que exigem classificação adaptativa e específica por domínio, além de mapeamento sofisticado de arte prévia.
Demandas de Aceleração pelos Requerentes
Inovadores esperam velocidade. Atrasos no exame impactam diretamente financiamento, entrada em mercado e segurança jurídica. O intervalo entre depósito e primeira ação precisa encurtar.
O cenário exige um sistema mais rápido, mais inteligente e mais resiliente. A IA não está apenas aprimorando fluxos de trabalho — está redefinindo como a propriedade intelectual é examinada, filtrada e protegida.
Em escritórios de PI no mundo todo, sistemas de IA voltados ao examinador estão remodelando a mecânica central do exame — acelerando a análise, reduzindo tarefas burocráticas e melhorando a consistência das decisões.
Ferramentas baseadas em IA estão melhorando de forma dramática a precisão e a velocidade das análises de novidade:
WIPO e USPTO já utilizam sistemas que recuperam, em tempo real, patentes semanticamente similares, reduzindo o tempo inicial de busca de horas para segundos.
“ASAP!” do USPTO (Automated Search and Pre-Examination) sinaliza citações relevantes antes mesmo de o exame humano começar.
JPO e KIPO integram modelos de machine learning que extraem termos-chave e citações legais, otimizando o fluxo de trabalho dos examinadores.
A IA amplia a comparação visual além da busca puramente textual:
DesignVision usa visão computacional para detectar semelhanças de forma entre desenhos industriais.
TMView AI do EUIPO quantifica a similaridade de logotipos, permitindo que examinadores detectem conflitos visuais que ferramentas tradicionais poderiam deixar passar.
A eficiência administrativa está avançando por meio de sistemas inteligentes de classificação:
WIPO AI atribui códigos IPC de forma autônoma com base na redação das reivindicações e no contexto, aumentando a consistência entre depósitos.
Ferramentas de automação de workflow agora cuidam de verificações de rotina e geração de documentos, liberando examinadores para o foco na análise substantiva.
A IA não está substituindo o examinador — está ampliando sua capacidade de lidar com complexidade, manter rigor jurídico e reduzir o backlog.
A seguir, uma tabela comparativa de ferramentas e uma análise complementar das tecnologias de reconhecimento de imagens usadas por escritórios de PI, sob a ótica do TWS IP AI Tool (para profissionais de PI, responsáveis de compliance e estrategistas de propriedade intelectual).
| Ferramenta | Provedor / Escritório | Capacidades Centrais | Principais Métricas / Observações | Comentários |
|---|---|---|---|---|
| DesignVision | United States Patent and Trademark Office (USPTO) | Busca federada de imagens em mais de 80 cadastros de desenhos/marcas; upload de até 7 imagens; ponderação de características visuais; filtros por classificação e texto. iPNOTE+3Quarles+3USPTO+3 | Oferece uma interface única para diversos cadastros, com o objetivo de reduzir o backlog de patentes de desenho. IPWatchdog | Desenhada principalmente para patentes de desenho (e desenho industrial), mas com implicações relevantes para marcas. |
| TrademarkVision & DesignVision (Clarivate) | Clarivate – ferramentas de busca por imagem para escritórios de PI e governos | Upload de imagens por drag-and-drop, comparação de forma/contorno/textura; suporta busca de imagens para desenhos industriais e marcas figurativas. Clarivate+1 | Relata “acurácia aferida em benchmarks – encontrando 97% das citações reais em um ensaio recente de marcas”, segundo documento da Clarivate. confluence.wipo.int | Produto comercial para escritórios (e potencialmente requerentes) complementar às ferramentas internas. |
| TMview ImageSearch (AI image) | European Union Intellectual Property Office (EUIPO) | Ferramenta de busca de imagens baseada em IA integrada ao TMview e ferramentas associadas; similaridade visual para marcas figurativas; suporte à classificação de produtos/serviços. EUIPO+2World Trademark Review+2 | Segundo um benchmark, apresenta ~80% de acurácia em buscas por imagem/logotipo no sistema do EUIPO. Bonamark | Acessível gratuitamente para muitos usuários; muito útil em pesquisas prévias e clearance de marcas. |
Acurácia e cobertura importam:
A ferramenta da Clarivate reporta acurácia de benchmark muito alta (≈ 97%) em ensaios específicos. confluence.wipo.int
O benchmark de busca de imagens do EUIPO (para logotipos) aponta ~80% de acurácia. Bonamark
Para requerentes, isso significa que mesmo sistemas avançados podem deixar de captar ~20% dos conflitos relevantes de imagem — a due diligence continua indispensável.
Escopo de cadastros influencia o risco:
O DesignVision abrange mais de 80 cadastros globais. IPWatchdog
TMview/DesignView cobrem dezenas de milhões de registros e cadastros nacionais. World Trademark Review+1
Requerentes que depositam globalmente devem assegurar que as ferramentas de busca por imagem cubram todas as jurisdições relevantes.
A ferramenta não é a decisora final:
USPTO e EUIPO enfatizam a supervisão humana. Por exemplo, o DesignVision “aumenta — não substitui” a busca textual tradicional. Quarles+1
Profissionais de compliance devem verificar se o uso de IA de imagens é registrado (para auditoria) e devidamente integrado ao fluxo de trabalho.
Benefícios na estratégia pré-depósito:
Requerentes que utilizam ferramentas semelhantes podem reduzir surpresas, objeções e recusas, pois conflitos visuais são identificados mais cedo. Abrande+1
Para portfólios, as buscas por imagem ajudam a identificar riscos de “look-alike”, especialmente para ativos fortemente baseados em design ou logotipos.
Transparência e trilhas de auditoria importam:
O USPTO registra o uso do DesignVision no file wrapper do processo (detalhes da consulta). USPTO
Para compliance, é essencial que ferramentas internas ou de terceiros mantenham logs, especialmente quando seus resultados fundamentam decisões estratégicas.
Limitações persistem:
Mesmo ferramentas avançadas podem falhar na detecção de marcas não figurativas, designs mais abstratos ou lacunas interjurisdicionais.
A busca por imagem complementa, mas não substitui, uma análise completa de clearance, classificação e novidade/probabilidade de confusão textual.
Verifique se o escritório de exame da sua jurisdição utiliza alguma dessas ferramentas de IA para imagens (ou similares) para marcas figurativas/desenhos.
Inclua buscas por imagem na fase de pré-depósito, especialmente quando sua marca/desenho possui elementos visuais fortes.
Mantenha documentação detalhada das ferramentas utilizadas (consultas por imagem, filtros, cadastros cobertos) para reforçar a trilha de auditoria.
Para depósitos globais, selecione soluções que cubram múltiplos cadastros (preferencialmente > 70).
Treine as equipes de PI para interpretar os resultados das buscas por imagem: uma lista ranqueada não é garantia de clearance — o julgamento jurídico humano continua indispensável.
Monitore comunicados dos fornecedores e dos escritórios de PI sobre atualizações das ferramentas, benchmarks de acurácia e políticas de transparência.
World Intellectual Property Organization (WIPO) – Classificação Automática IPC
A ferramenta de classificação da WIPO (treinada em ~30 milhões de documentos de patentes) atingiu “alta acurácia em nível de subclasse, alcançando a faixa dos 90% ou mais”. WIPO+2WIPO+2
Em relatório, a WIPO observa que “a classificação automática de patentes ajuda a agilizar o exame … e melhora a precisão das buscas …” WIPO+2WIPO+2
⇒ Implicação: para escritórios/requerentes que dependem da IA de classificação da WIPO, é razoável esperar ~90% de atribuição correta em nível de subclasse, o que implica que ~10% dos casos ainda exigirão correção ou revisão humana.
European Patent Office (EPO) – Roteamento e Classificação com IA
O EPO reporta: “Pedidos recebidos roteados com base em pré-classificação automática agora apresentam mais de 90% de acurácia.” EPO Link+1
No Quality Report 2024, o EPO destaca que “classificou integralmente 696.884 documentos” e “reclassificou 17.745 famílias de documentos” com suporte de IA. EPO Link
Em apresentação interna, a pré-classificação alcançou “Soft Accuracy@5 = 0,81” (ou seja, em 81% dos casos a etiqueta correta aparece entre as cinco primeiras previsões) e “Recall@10 = 0,51” para o modelo de classificação completa. WIPO
⇒ Implicação: mesmo em uma jurisdição sofisticada, a classificação com IA apresenta desempenho bom, mas não perfeito (~80-90%). A revisão humana continua vital, especialmente em casos complexos de múltiplas classificações.
Benchmarks Acadêmicos / de Pesquisa
Alguns estudos relatam que a classificação automática em nível de subclasse IPC atinge apenas ~49-55% de acurácia em benchmarks desafiadores. ScienceDirect
Outros estudos: em um conjunto de dados brasileiro, modelos de machine learning para classificação de patentes alcançaram acurácia média em torno de 62%. Cos.ufrj
⇒ Implicação: sistemas comerciais e de escritórios de PI tendem a superar muitos modelos acadêmicos-base, mas, à medida que se aprofunda (muitas subclasses, múltiplos rótulos), a acurácia cai. A “cauda longa” de tarefas continua desafiadora.
Não assuma que está “100% pronto”: mesmo em escritórios bem equipados, ferramentas de classificação com IA têm acurácia de ~80-90%; ~10-20% dos casos se beneficiam de correção humana.
Audite o processo de classificação: se você deposita ou atua em jurisdições que usam IA para classificação, inclua no seu fluxo de trabalho a verificação das classes atribuídas (IPC/CPC) — especialmente em áreas complexas (IA, biotecnologia, software).
Mantenha registros e transparência: para fins de compliance, due diligence e auditoria, registre como a classificação foi atribuída (sistema de IA usado, versão, data, níveis de confiança quando disponíveis).
Use a IA, mas planeje fallback: como examinador ou requerente, utilizar IA para classificar economiza tempo — mas garanta que o fluxo inclua revisão humana para casos-limite (múltiplas tecnologias, classificações de fronteira, depósitos estratégicos).
Depósitos globais = risco ampliado: a acurácia pode variar de acordo com a jurisdição e o domínio tecnológico. Se você deposita no Brasil, na América Latina ou globalmente, valide se a ferramenta tem boa cobertura/treinamento para essas regiões e campos.
Automação de workflow além da classificação: a IA também está apoiando roteamento, validação documental e automação de tarefas de apoio. O EPO reporta que a combinação de classificação e roteamento com IA contribui para acelerar o exame e melhorar a consistência.
À medida que examinadores adotam automação, requerentes também precisam evoluir. A IA agora está incorporada na forma como profissionais de PI redigem, avaliam e administram seus portfólios.
Ferramentas como PatentPal, AllPriorArt e Solve Intelligence estão transformando a preparação de pedidos:
Assistentes de redação otimizam a linguagem das reivindicações, reforçam a clareza e sugerem automaticamente ressalvas em relação à arte prévia.
Para depósitos de desenho, a IA ajuda a validar originalidade frente a grandes bases de dados de designs — minimizando riscos de conflito antes do protocolo.
A IA está viabilizando uma estratégia de PI preditiva e orientada por dados:
Dashboards consolidam tendências de depósito, padrões de rejeição e exposição a litígios.
Heatmaps de risco destacam ativos subprotegidos ou superexpostos, permitindo ajustes proativos de portfólio.
Ferramentas de IA estão passando por auditorias de conformidade — especialmente em jurisdições com leis rígidas de dados:
Plataformas como Intanify alinham analytics de PI com a LGPD, identificando automaticamente riscos de privacidade e licenciamento.
Sistemas de detecção identificam IP órfã, acordos expirados e alertas regulatórios ainda no início do ciclo.
| Área | Ganhos do Examinador-IA | Ganhos do Requerente-IA |
|---|---|---|
| Busca | Cobertura mais rápida de arte prévia | Menores taxas de rejeição |
| Consistência | Decisões padronizadas | Resultados de redação mais previsíveis |
| Velocidade | Ciclos de revisão mais curtos | Concessão mais rápida |
| Insights | Detecção de tendências, analytics | Preparação para litígios e licenciamento |
O alinhamento de IA nas duas pontas do processo reduz atritos, eleva a qualidade e abre espaço para uma visão estratégica de longo prazo.
Apesar de seu potencial, o uso de IA em PI exige forte governança:
Viés & Transparência: modelos proprietários de “caixa-preta” podem introduzir inconsistências e lógica opaca.
Privacidade de Dados: plataformas de IA de terceiros devem cumprir a LGPD e marcos internacionais correlatos.
Integridade de Inventoriação: invenções geradas com auxílio de IA levantam questões jurídicas — a IA não pode, pelo direito atual, ser listada como inventora.
Auditabilidade: equipes de PI devem documentar onde, quando e como ferramentas de IA influenciam o conteúdo do pedido ou a estratégia de prosseguimento.
Integre IA ao seu fluxo de trabalho — mas sempre valide os resultados manualmente.
Eduque clientes sobre como as ferramentas de IA do lado do examinador podem interpretar seus pedidos.
Audite todos os fornecedores de IA, suas fontes de dados e práticas de processamento.
Mantenha logs detalhados de cada ação assistida por IA para garantir prontidão para auditorias.
Faça cumprir a supervisão humana obrigatória em todas as etapas de exame assistidas por IA.
Teste regularmente modelos de IA quanto a viés, equidade e conformidade jurisdicional.
Nossa visão é revolucionar a gestão de propriedade intelectual por meio de sistemas de IA que sejam não apenas poderosos, mas éticos, auditáveis e plenamente alinhados a padrões jurídicos globais.
Visualizamos um futuro em que:
A IA se torna uma parceira confiável — não uma caixa-preta. Ela apoia examinadores, requerentes e responsáveis de compliance com lógica explicável, ações transparentes e acurácia mensurável.
Sistemas de Requerente-IA e Examinador-IA colaboram, simulando todo o ciclo de vida de pedidos de PI antes mesmo do depósito — antecipando riscos, otimizando redações e alinhando estratégias.
A conformidade regulatória é automática, com mapeamento nativo de LGPD, detecção de alertas de licenciamento e identificação de PI órfã — permitindo que organizações escalem operações de PI com segurança e legalidade.
A expertise humana é amplificada, não substituída. A IA assume o trabalho pesado — extração de dados, varredura de arte prévia, análise de risco — para que profissionais se concentrem em decisões estratégicas, criativas e transfronteiriças.
A harmonização global é construída por design, com ferramentas que suportam depósitos multijurisdicionais, padrões unificados de classificação (IPC/CPC) e protocolos de IA interoperáveis entre escritórios de PI.
Em resumo:
Estamos construindo um futuro em que a PI é mais inteligente, mais rápida e inerentemente em conformidade — impulsionada por um núcleo de IA seguro e guiada pela inteligência humana.
A inteligência artificial não veio para substituir profissionais de propriedade intelectual —
Ela veio para fortalecê-los.
A vantagem competitiva pertence a quem integra a IA de forma inteligente:
Para redigir com maior clareza,
Para examinar com precisão mais profunda,
E para gerir portfólios com visão de longo prazo.
Na MJZanon, não acreditamos em automação total.
Acreditamos em amplificação — onde a IA potencializa o julgamento humano, fortalece a conformidade e acelera a inovação.
O futuro da PI pertence aos profissionais que colaboram com sistemas inteligentes — não aos que competem contra eles.
Vamos construir uma proteção mais inteligente, juntos.