Por Marcus Julius Zanon — Advogado de PI e Compliance (Brasil)
Em 2025, o USPTO passou a aplicar, de forma inédita, um novo filtro discricionário que privilegia as chamadas “expectativas consolidadas” (settled expectations) de titulares de patentes mais antigas ao decidir sobre a instituição de IPRs (inter partes review). A mudança tem gerado reação contundente do ecossistema: Kathi Vidal, ex-diretora do USPTO (2022–2024), afirma que o Escritório está “excedendo completamente sua autoridade”, favorecendo entidades de afirmação de patentes (PAEs) e criando riscos sistêmicos à inovação. Empresas como Google, Samsung e Western Digital já contestam a política no Federal Circuit. Paralelamente, houve um remanejamento na liderança do PTAB para a CRU (Central Reexamination Unit) e discute-se um novo modelo de taxas baseado em valor — ambas as frentes com impacto direto em estratégia, orçamento e governança de portfólios. Dentons+5Bloomberg Law+5WilmerHale+5
Em 26 de março de 2025, o USPTO emitiu um memorando interino (sob a direção interina de Coke Morgan Stewart) que reorganizou o exame de negações discricionárias para IPRs/PGRs, introduzindo novo fluxo de briefing e fatores adicionais para recusar instituição — entre eles, as “expectativas consolidadas” quando a patente contestada já acumula “tempo em vigor” e notoriedade no setor. Poucos meses depois, decisões da direção em iRhythm e Dabico aplicaram explicitamente esse fator para negar instituição. Na prática, quanto mais antiga a patente e mais previsível sua posição no mercado, maior o ônus para o peticionário — mesmo diante de prior art robusta. USPTO+2WilmerHale+2
Vidal, hoje sócia do Winston & Strawn, criticou publicamente o novo regime ao apontar que fortalece PAEs e reduz o escrutínio de qualidade via PTAB. Segundo ela, o USPTO estaria excedendo sua autoridade ao blindar patentes mais antigas com base em supostas expectativas, o que desestimula desafios legítimos e encarece a inovação. Bloomberg Law
De junho a setembro de 2025, multiplicaram-se mandados de segurança e apelos no Federal Circuit contra a nova política — com Google, Samsung e Western Digital entre os protagonistas. As petições alegam ultra vires e violação da APA, sustentando que o fator “expectativas consolidadas” subverte a finalidade do AIA de facilitar a revisão administrativa de patentes inválidas. Resulta daí um efeito arrefecedor sobre a taxa de instituição no PTAB e um deslocamento estratégico para reexame ex parte e litígios diretos nos tribunais de distrito. National Law Review+2Patent Progress+2
PTAB ↔ CRU. Em 28 de agosto de 2025, o Chief Judge Scott Boalick e o Vice Chief Judge Mike Tierney foram realocados para liderar a Central Reexamination Unit (CRU). O recado institucional: reexame ex parte volta ao centro da estratégia, inclusive como “válvula de escape” às barreiras de instituição no PTAB. Bloomberg Law+1
AAPA e “conhecimento geral”. Em 22 de agosto de 2025, o USPTO restringiu o uso de Applicant Admitted Prior Art (AAPA) e “conhecimento geral” para suprir limitações em IPRs. A diretriz eleva o ônus probatório do peticionário para patentes e publicações externas, o que é percebido como vitória de titulares e mais um freio aos IPRs. Reuters
Taxas baseadas em valor. O Departamento de Comércio e o USPTO discutem modelo de taxas percentuais (p.ex., 1%–5% ao ano sobre “valor” do ativo), em substituição/adição ao regime fixo de maintenance fees. O tema é político, jurídico e econômico — com reações fortes da indústria e questões de competitividade e autoridade regulatória. Notaro, Michalos & Zaccaria P.C.+2Dentons+2
Aja cedo: IPRs nos primeiros anos pós-concessão reduzem o risco de negação por “expectativas”. Em petitions tardios, enquadre o fator com fatos (inércia do titular, ausência de avisos, mudança tecnológica, etc.). Jones Day
Dossiê “anti-expectativas”: demonstre arte anterior realmente nova, reexames/reissues, emendas e interesse público (p.ex., custo à cadeia de suprimentos).
Plano B: avalie reexame ex parte na CRU, defesas de invalidade no district court e estratégias de stay. O redesenho institucional favorece o reexame como via paralela. Bloomberg Law
Ajuste de prior art: com AAPA/“general knowledge” limitados nos IPRs, robustez documental e combinações limpas de patentes/publicações tornam-se críticas. Reuters
Aproveite o “moat” temporal: se sua patente é 6+ anos, avalie enforcement estratégico agora — o fator “expectativas” pode dissuadir IPRs. Jones Day
Fortaleça o arquivo: declarações técnicas, evidências de adoção de mercado e investimentos ajudam a “consolidar” expectativas.
Cautela com spec e admissions: a diretriz contra AAPA reduz riscos no PTAB, mas admissões seguem perigosas em tribunal — coordene redação com contencioso. Reuters
Opex/CAPEX de PI: simule cenários de taxa baseada em valor (1%–5%) — cash burn pode aumentar substancialmente para portfólios de alto valor. Notaro, Michalos & Zaccaria P.C.+1
Risco PAE: espere mais campanhas contra setores com pilhas tecnológicas ubiquas (ex.: Wi-Fi em life sciences), dada a maior previsibilidade defensiva no PTAB. Bloomberg Law
Governo & regulação: decisões administrativas (memorandos) estão puxando a régua competitiva — monitore Federal Circuit e consultas públicas sobre taxas.
Entrada e freedom to operate: ao planejar lançamentos nos EUA, inclua triagem de patentes antigas no setor alvo. O risco de instituição negada faz litígios diretos mais prováveis e acordos mais caros. Jones Day
Estratégia de depósito: para ativos nucleares, depósitos precoces e famílias internacionais bem estruturadas (EPO/JP/BR) robustecem a posição contra PAEs.
Orçamento: se o modelo de taxas por valor avançar, recalibre TCO de proteção (provisões contábeis, covenants, valuation). Dentons+1
Acordos e licensing: considere cláusulas gatilho (reprecificação) para cenários de mudança regulatória de taxas e barreiras processuais no PTAB.
Auditoria de litígio/ameaças: mapeie processos e demand letters envolvendo patentes >6 anos no seu stack.
Pipeline de IPRs: identifique casos que exigem petição imediata; adapte templates para rebater “expectativas” na seção de discricionariedade. WilmerHale
Reexame pronto: crie playbook CRU com forms, search packages e cronogramas—útil quando Fintiv/“expectativas” inviabilizam o PTAB. Bloomberg Law
Política de prior art: reforce busca documental (patentes/publicações) não dependente de AAPA. Reuters
Cenários de taxas: faça stress test financeiro (1%–5%) sobre sua carteira alvo nos EUA; reporte ao Conselho. Notaro, Michalos & Zaccaria P.C.
O conjunto “expectativas consolidadas” + restrições a AAPA + deslocamento PTAB→CRU + possível “taxa por valor” redesenha o custo/benefício de contestar e fazer valer patentes nos EUA. Para inovadores e investidores — inclusive brasileiros com ambição global — a resposta não é reduzir a ambição de PI, mas sim recalibrar o processo decisório: agir cedo, documentar mérito técnico e mercado, diversificar vias administrativas/judiciais e blindar orçamento para um cenário de maior custo regulatório. O contencioso de PI está mudando — quem se adapta primeiro negocia melhor, litiga melhor e gasta menos ao longo do ciclo.
Declarações de Kathi Vidal e reação de mercado. Bloomberg Law
Memorando interino (26/03/2025) — processo de negação discricionária e briefing. USPTO+1
Casos iRhythm/Dabico — primeiras negações por “expectativas consolidadas”. Jones Day
Mandamus/appeals contra a política — Google, Samsung, Western Digital. National Law Review+2Patent Progress+2
Remanejamento PTAB → CRU (Boalick/Tierney). Bloomberg Law+1
Restrição de AAPA em IPRs. Reuters
Taxas baseadas em valor — propostas e impactos. Dentons+2Notaro, Michalos & Zaccaria P.C.+2
We use cookies to improve your experience on our site. By using our site, you consent to cookies.
Manage your cookie preferences below:
Essential cookies enable basic functions and are necessary for the proper function of the website.
These cookies are needed for adding comments on this website.
Statistics cookies collect information anonymously. This information helps us understand how visitors use our website.
Google Analytics is a powerful tool that tracks and analyzes website traffic for informed marketing decisions.
Service URL: policies.google.com